quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

K
K

Quando tiver tempo

Quando tiver tempo,
fechar-me-ei num armário,
e escavarei lascas de madeira,
feitas grãos de areia,
e, então,
verei
como é lindo o cimo do sonho,
o tecto feito azul,
as teias de aranha;
nuvens,
o bicho da madeira;
marulho do mar.
Então,
abrirei a porta
e o vento da morte
cercar-me-á,
mas não me levará consigo,
porque me fechei num velho armário,
já esquecido pelo tempo.
K

Vós

Uma voz.
Nada diz.
Apenas o suave batuque
das esperas que se não ouvem.
Perto,
tão perto,
ouço,
gritantes,
os longínquos
pulsos que me circulam,
veias adentro.
A voz,
sempre a voz,
da espera...
K
No mar me embrenho.
Um corpo só,
rompe o cristalino
em que me escavo.
Estilhaços ignorados,
apenas dois olhos,
duas vistas,
que escorrem
e se escapam desse sal.
Crispo-me,
nada acho,
sou,
apenas.

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

K

Este amigo...

O amigo cerra-se. Longe de si, nem portas abertas.
O silêncio espera-o, atrás do tempo que atrasa. Apenas a surdez do desespero em não saber.
O casulo é tecido com rendilhados de malvadez.
Mãos esguichando um sangue pulsante, quase podre...
A clareza envolve a escuridão deste amigo...

Tudo o que eu soltaria para falar deste amigo, está dito!...

(01 Novembro, 2006 - Dia de Todos os Santos)

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

K

Comentar...

"se um poeta é um fingidor..."
Que não finja!!Sinta e sente(-se)!!
Mas...que também...
se levante e...
Brote:
a pureza do sal,
tão primeva, tão pura...
que, ao desabrochar...
seja cacto...
seja espinho em carne...
em carne-sangue!
Não seja máscara!!
[[atrás de venezianas]]
Seja todo inteiro!!!
Seja Homo...
(seja húmus...)
K

A Preciosa Realidade

Trincos enferrujados gemem-me em tímpanos lúgubres.

Há estalidos de desesperança; faíscam-me nos olhos rijamente cerrados.

As planuras esbatem-se aprofundantes, alma adentro.

Ferrolhos ondulam-se em escarpas silenciosas acolá, aqui tão longe, que magoam uma sombra; esforça-se ela por não o ser, não mergulhar nos ossos que, mansamente, enrijecem ao sabor de um tempo recuante.

Nada desponta num plausível rendilhado antigo, seco, que terá sido luz.

Eis-me aqui! Um passo atrás e detrás.



(Dia de Todos os Santos, 2H10)

terça-feira, 10 de outubro de 2006

K

Quotations

……..Uneasy lies the head that wears a crown,
Shakespeare said.
A King has everything except a private life,
George Dubois said.

“I say that bossing around,
With servants around,
Is tiresome…
And the boss becomes
the servant

A master of himself,
Forgetting others…
A tyrant of the self
A selfish little monster.
Egocentric
(signifying nothing…)
Meanless …
A dying thing…
A body,
A corpse

(a pack of bones)

Laying,

[ in his sumptuous camber… ] “



29/06/06 (2.29 a.m.)

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

K
K

Bin Bin Bin!!!

Sahllam!

O sr. Bin (Ben?) Laden conseguiu o que queria. Desde 2001 que o mundo se interessa imenso por ele, escritores enriquecem escrevendo acerca dele, pessoas morrem (talvez) por causa dele, enfim todo o Mundo Árabe veio à cena por causa dele.

Infelizmente, o Mundo Árabe veio à cena pelas piores razões que se podem imaginar. Os media persistem em mostrar-nos mesquitas cheias de fiéis a serem arrazoados por sacerdotes enraivecidos. Sempre o Ocidente nas suas miras, sempre o grande Satã americano.

Talvez haja quem se lembre de Khadaffi na Líbia. Ele e as suas tropelias: treino de terroristas europeus (talvez?), o desafio constante à política externa norte-americana.

E a já eterna crise no Médio Oriente. Israel vs. vizinhos árabes. Danos colaterais de parte a parte. Pelo menos, nos anos 60-70, ainda todos tinham a "ombridade" de lutar entre exércitos. Hoje a realidade é mais personalizada... Um sujeito fazer-se explodir no meio de uma multidão já é muito mais mediático do que uma guerra entre exércitos que, tacticamente, avançam e recuam no terreno e que, portanto, aborrecem as audiências televisivas.

Mas tudo isto põe-me a pensar. Mas que raio de política externa têm os países ocidentais mantido ao longo das últimas dezenas de anos? Que têm eles feito para irritar tanto algumas facções do Mundo Árabe, ao ponto de se terem criado e desenvolvido redes terroristas brilhantemente organizadas?

Penso que uma das respostas está precisamente no que os ocidentais (e peço desculpa por tomar a parte pelo todo) não têm feito. Não têm respeitado, tomado atenção, conhecido a realidade árabe. Pelo pouco que conheço da "mentalidade árabe", há um sentido de algum desprezo pela nossa cultura actual. Provavelmente vêem-nos como demasiado materialistas, demasiado ansiosos nas nossas correrias, demasiado afastados da espiritualidade.

No entanto, foi a cultura árabe (depois do pó da conquista ter amainado) que manteve o elevado nível cultural de todo o Norte de África até à nossa Península Ibérica. A situação era, então, a oposta de hoje: a religião perpetuava os horizontes estreitos por essa Europa fora, enquanto sábios árabes comentavam Aristóteles, descobriam o zero (sim , o zero que tem um valor crucial para a nossa aritmética e que, obviamente, se reproduz por toda a Matemática), arquitectos desenhavam as contruções mais maravilhosas que ainda hoje nos transportam até aos "nossos" contos de fadas.

O Ocidente apenas tem olhado para os poços de petróleo do Mundo Árabe. Infelizmente, um país não é apenas aquilo que nos pode fornecer, não é apenas a interesseira amizade com a família real que reina com pulso de ferro esse mesmo país. Também quase destruir outro país para garantir o fornecimento do petróleo que produz, usando o álibi do estabelecimento da democracia também já não convence ninguém (sim, eu sei: o sr. Saddham era um sanguinário, só que a situação hoje não parece estar muito melhor).

Tentar dialogar com terroristas, pelo menos por agora, seria tentar uma relação unívoca. Pura perda de tempo. Mas seria perder tempo procurar conhecer melhor o Mundo Islâmico, o Mundo Árabe? Saber o que pensam, o que escrevem nos seus jornais, conhecer os seus pensadores, os seus homens de cultura?

O será melhor que ambas partes se continuem a mirar sobre o ombro e pensar que uma é melhor do que a outra? (Já agora, em termos culturais, o que é "ser melhor? Era só para ficar um pouquinho mais elucidado...).

PS - o autor penitencia-se por alguma inocência/ingenuidade evidenciada neste artigo

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

K

Meu amor

Meu amor,
tem a casa limpa,
o ar lavado,
os lençóis prontos
para quando eu voltar.
Partirei assim,
amortalhado
pelas tuas mãos,
pelo teu carinho...
K

Azul serra

Pelo azul adentro,
estendem-se os montes,
prolongam-se
até ao mais infinito.
Pedras ásperas,
descem mar abaixo,
e, ao fundo,
a água é leite,
raioso o Sol,
espuma nebulosa.
Brilha a areia
(ósculos de água);
a planura vence os montes.
Pressente-se um Outono
na brisa
tingindo o ar;
paira uma paz
que as gaivotas sabem...
K
Desejo que todos tenhamos uma "rentrée" na vida activa mais pacífica e suave do que a do ano passado.
Que os nossos políticos "resquiet in pace", para bem de todos nós.
Assim seja.

sábado, 2 de setembro de 2006

K

Se tu...

Se tu quisesses,
o horizonte
era sempre laranja;
um alto monte,
a sua velha granja,
um trigo que envelhece.
Longe, a ponte
desce a mancha
que transparece
entre teus olhos
verdes,
em que mergulho,
num prazer pueril,
entre formas de
desejo...

terça-feira, 15 de agosto de 2006

K

(a Palavra...)

Persigo a Palavra,
rasgo caminhos,
trilhos.
Ofego,
ardo por ela.
Busco-a
com a dor
da desesperança!..
K

Prisões

Há uma sombra
que persiste.
Sobre mim pesa;
submerge-me,
qual manto maldito;
enrosca-me os pulsos,
ata-mos.
Algemas de dor,
agulhas de ferrugem,
tão afiadas
que me esmagam.
A sombra despenha-se
e afundo-me
sem regresso
ou retorno.
K

Aneluz

Aqui tão perto,
fios de luz
sorriem-me,
escorregando
águas adentro...
Perdem-se
por entre anéis,
anéis de espera.
Mergulho na luz,
tão azul,
e sou envolvido.
Levam-me ao fundo
pintalgado de sombras.
Abro os olhos
na solidão suprema.
E a majestade das águas
recolhe-me,
qual pétrea memória...
K

...de Lua

Frondosas, verdes,
espraiam-se pelos regos da Lua.
Cálidas negritudes,
alvos amores
que se transgridem
e pulsam,
inquietos,
pelos ramos
que, tão verdes,
ironicamente
se encestam
colina acima.
Voltam,
ofegantes de tanto se espraiarem.
A relva acolhe,
tudo acolhe
com o seu rir verde,
quase ansioso
pelo amor tardante,
que teima,
fulgurante,
em não vir aos regos da Lua,
às frondes
que, de tanto aguardar,
se esbatem,
se quedam...

sexta-feira, 11 de agosto de 2006

K

Prostração

Cansaço,
tristeza.
Céu pardo,
escuro.
Nada vejo
para lá
da minha pele.
Em círculos,
a memória nada traz.
Cai-me o pano,
negro.
Cerro os olhos,
marejados.
A parede
estende-me seus braços;
enterro-me pelo chão.
Curvo a cabeça,
arrependido...
fecho-me os braços
e espero.
Lancina-se-ma a garganta,
seca de não gritar
a tantos ventos
o meu querer feroz,
animal.

Deixem-me!!!
Deixem-me práqui!!!

Eu sonâmbulo de mim,
nada mais quero...
apenas,
o passo desejado...

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

K

a porta da m...

K

m...

Estendo-te as mãos...
Esperavas-me...
há muito.
Espiavas-me,
esgueiravas-te.
Com paciência,
em sussuros apenas teus;
aguardavas-me.
Lambias tuas mãos,
que iriam segurar minha cabeça.
Teus olhos cavos
preparavam a estocada final.
Em cada esquina
ias mirando meus passos,
quase seguros,
quase esquecidos de ti.
Até que, ao tropeço,
te estendo as mãos,
recordado
das suaves dores que me trazes,
tão seca, inominada.
Desenvolta,
carregas-me,
sinto teu corpo;
gélido sempre.
Deixo-me ir.
Anunciada estavas,
(havia muito...)

sábado, 5 de agosto de 2006

K

Sweet, lovable Fall

O Outono
habita-me desde que me sei.
Envolvo-me em folhas
que se separam,
como pedaços de mim.
Curvam-se as canas,
a um vento chão,
ainda cálido,
como meu murmúrio.
Um Sol vai caindo,
e meu coração
despedaça-se
nas chamas que o acompanham.
Algures em baixo,
a minha sombra cresce,
é a manta que me cobre,
os olhos que se fecham,
a suave tristeza,
o doce estar só...
Um Outono que fica,
sem memória de Primavera...

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

K

parede

A parede especa-se-me,
imóvel,
parda.
Acima,
um céu anegrado,
sublime,
triunfante na sua turvez;
torna quase alva a parede.
Olho-a.
Desafia-me.
Baixo o olhar;
as mãos estendem-se-me
inexoráveis...
chumbo,
sempre chumbo...

quarta-feira, 26 de julho de 2006

K

(...)

Lúgubres luas
raiam refulgentes
sobre as secas
e lavadas lages.
Raios rutilantes,
sulcam as selvagens
lodosas lamas...
tiritam, tremem,
isoladas, hirtas.
Gemem juntas,
sorvendo
mágoas, maleitas
de dias distantes...

quinta-feira, 6 de julho de 2006

K

A um navegante

In memoriam
Fernão Mendes Pinto

Sentado no molhe,
um marinheiro
a quem o mar já não chama.
Um horizonte carregado
de alma,
de sonho
e memória.
No bolso,
um papel dobrado:

Onde
Caibo?
Este
Atlântico
Não me
Ouve.

Chove;
as águas mergulham
sobre si mesmas.
Correntezas antigas
flúem nas lembranças
que já não vêm…
Gritos abafados de gaivotas
levam consigo
velhos pergaminhos
há muito esquecidos…

quarta-feira, 5 de julho de 2006

K
K

Terra

Aqui te habito...
Tuas fúrias levam-me,
trazem-me...
surpreso da tua força,
tento reerguer-me,
numa fugaz luta desigual.
E tu sorris,
sorris sempre,
do que faço
para te agarrar,
não me fugires,
com esses outros,
também teus,
meus irmãos de rota,
nesta fragata
que nunca ancora,
que sempre voga,
e que de baixo de si,
ao seu ventre,
inadiável,
hei-de baixar...

sexta-feira, 23 de junho de 2006

K

Divina fartação

Estou farto de quererem mandar em mim, na minha carreira.
Estou farto de ser desconsiderado por um Governo que se diz legitimado pelo Povo.
Estou farto de políticos. Governar a "Polis" não é o mesmo que mandar na criada lá de casa, como se fazia há 40 anos.
Estou farto de a minha profissão ser cada vez mais desprezada socialmente.
Estou farto de ser desvalorizado: ninguém se lembra que estamos a formar gerações. Nem Sua Excelência a Senhora Ministra, nem Sua Eminência o Senhor Primeiro-Ministro devem ter andado na escola; nada devem aos seus professores com certeza; certamente nasceram ensinados (e muito mal, pelo que se tem visto...).
Estou farto de ver a autoridade da Escola descrescer; nem sequer os Sindicatos estão muito preocupados com isso, quanto mais o ME...
Estou farto de notícias que revelam a brutalidade com que são tratados colegas meus.
Estou farto de os pais só se lembrarem do aproveitamento dos filhos na última semana de aulas do 3º período.
Estou farto da frase:"Se o aluno passa é muito inteligente; se reprova, o professor não sabe ensinar".Se os alunos que nos entram pelas salas adentro são o reflexo do que vai lá fora, prefiro não saber do mundo, dar o meu melhor, passar de esguelha pelo planeta e cultivar o meu jardim secreto.
E não me chamem misógino, por favor...
K

A separação da Igreja do Estado

K

Cruzes canhoto!!...

«A religiosidade nas escolas»

O EXPRESSO de 3-12-05, a propósito da persistência de crucifixos em salas de aula de escolas públicas, refere declarações do gabinete da ministra Lurdes Rodrigues e de um responsável sindical, afirmando que essas situações se verificam exclusivamente na região Norte de Portugal e que não ultrapassam a vintena - o título da notícia é mesmo: «Só 20 escolas têm crucifixos».
Ambas as informações são factualmente incorrectas e uma simples consulta ao repertório produzido pela Associação República e Laicidade permitiria verificar que existem escolas com símbolos religiosos permanentes distribuídas pela região Norte, pela região Centro, pela região de Lisboa e pela do Alentejo e, sobretudo, permitiria perceber que essas situações foram citadas a título meramente exemplificativo, sendo muitas outras aí deliberadamente omitidas para proteger a privacidade das pessoas que fizeram chegar a informação à associação.
Acrescente-se que a Associação República e Laicidade considera a medida entretanto tomada pelo Ministério da Educação - mandar retirar crucifixos de salas de aula a pedido explícito de encarregados de educação - claramente insuficiente: está constitucionalmente garantido aos cidadãos portugueses o direito de não serem, por forma alguma, postos na situação de terem que revelar convicções (positivas ou negativas) que mantenham, designadamente em matéria religiosa, e o exercício desse direito, que não se compadece com a postura agora adoptada pelo Governo, requer a retirada de todos os símbolos religiosos das salas de aula, garantindo assim, a par da não confessionalidade da escola pública, a separação entre o Estado e as igrejas e a igualdade entre todos os cidadãos independentemente das suas convicções em matéria de religião.

Ricardo Alves (Secretário da Direcção)
Carta enviada ao «Expresso» e publicada no dia 10/12/2005, com o título aqui reproduzido.

Penso que esta "questão do crucifixo" é estranha. Retirar crucifixos de salas de aulas onde já estavam, faz lembrar proselitismos radicalistas. A liberdade religiosa é um garante constitucional de qualquer cidadão. Aí estamos de acordo. Se são construídas novas escolas, não há razão para colocar crucifixos nas salas; o Estado é laico, as escolas, públicas.
Retirar crucifixos de salas onde já estavam, peço desculpa à Associação República e Laicidade, traz-me sempre à memória o que se passou com alguns jornalistas portugueses em visita à Albânia nos idos do pós 25 de Abril. Levavam consigo o seu inocente "Diário de Notícias". À chegada ao aeroporto de Tirana, foram-lhes imediatamente confiscados os jornais. Razão? Na secção dos obituários eram representadas cruzes (relativas aos falecidos); ora, como toda a gente sabe, a cruz é um símbolo religioso, "ergo" não podia ser mostrada num local tão laico como a Albânia de então...
Peço, uma vez mais, que me desculpem. Esta "questão dos crucifixos" recorda-me a "simbologia da cruz" na Albânia nos idos de 75. É uma comparação exagerada, bem o sei. Mas será tão necessário ir à pressa retirar os crucifixos em nome da Constituição? Um simples crucifixo irá ferir assim tanto a intimidade religiosa/ateia/agnóstica de um professor/aluno/funcionário?
Não terão estado as cruzes e os crucifixos tão ligados à nossa História? O que encimava os padrões que os nossos navegantes iam erguendo por esse mundo fora? Que símbolo se encontrava em qualquer praça de qualquer localidade onde estivesse um pelourinho?
Não haverá assuntos mais importantes a tratar nas escolas do que esta "caça ao crucifixo"?
Sei que se trata de um assunto melindroso; sei, também, que o nosso povo é anti-clerical, mas profundamente religioso.
Sei do que falo. Não sou católico romano; apenas cristão. O crucifixo, para mim, não tem qualquer sentido: Jesus já está ressuscitado e vencedor sobre a morte; não está, pois, já pregado numa cruz. Mas isto são os meus ideais cristãos que, espero, não firam um qualquer concidadão na sua liberdade religiosa.
Já agora, e "a talho de foice", aproveito para exprimir a minha perplexidade pelo facto de os bispos católicos já não serem convidados para actos públicos. Provavelmente para manter o ideário da desvinculação absoluta entre os representantes da Igreja de Roma e o Estado Português.
Na minha modesta opinião, um Estado verdadeiramente democrático deveria convidar os representantes de todas as convicções religiosas para qualquer acto público. A vida em democracia, se passa pelo direito à liberdade religiosa consagrada pela Constituição da República, também passa pela igualdade de tratamento de todas as religiões. E seria bonito ver um bispo católico lado a lado com um pastor evangélico, um padre ortodoxo, um monge budista e por aí fora. Uma cerimónia de carácter público ganharia assim um ar de democraticidade e de igualdade que, provavelmente, seria um exemplo para a os restantes países da União.
Mas, em tudo isto, talvez esteja a sonhar um pouco alto demais...

quinta-feira, 22 de junho de 2006

K

Pétrea manhã

Talvez ficasse esperando,
sentado numa pedra,
ao fresco sol da manhã.
Brisando o ar,
minh'alma expectante,
meu sorriso guardado.
Talvez lembrasse,
tempos.
Tempos de risos,
risos garotos,
sem mal,
apenas risos.
Sopra o vento,
sentado,o horizonte chama-me,
deliciado, talvez.
Entre as frestas,
vejo uma cálida memória,
quase anciã,
uma memória tão vaga,
como as vagas de um lago,
estacado no tempo.
Dói-me a pedra sob mim.
Há uma rocha
sobre a minha fronte,
gelada,pétrea.
Afila-se o olhar...nada vê,
tudo imóvel,
naquela manhã,
tão queda,
tão lerda,
suave,
bêbeda de si.

quarta-feira, 21 de junho de 2006

K

Pele

K

Corpo

Brisa-se um sol.
Longa madrugada,
espreguiça-se
suave pela areia,
morna de ti.
O teu corpo estende-se,
espraia-se por mim todo,
sinto-te em mágoas,
em cheiros,
em tudo o que é teu.
Meu é o céu
que nos aguarda.
Teu olhar,
que me despe
impiedoso.
Tua pele que me rodeia,
teu ar,
sons,
nós...

terça-feira, 20 de junho de 2006

K

Gargalhar!!!

Risos...

Hoje ri-me. Muito. Há colegas meus com quem sempre me rio; e bastante. O Pedro (que ainda me hoje perguntou por novidades no soprodivino), a Sandra, a Susaninha…
É bom rir, soltar aquelas piadas que, sem contexto para os de fora, são indecifráveis (até bem idiotas…). Lutar contra a malfadada “crise” passa também por nos rirmos de nós próprios e dos outros, sem muita malícia ou maldade.
Alguém me disse, há muito tempo (12 anos?) que, como os adultos não podem brincar à apanhada ou escondidas como as crianças, jogam com as palavras. E é giro. Muito.
As palavras “puxam” umas pelas outras, solta-se a timidez, as gargalhadas surgem naturalmente. O riso é um excelente remédio. Enquanto rio, esqueço-me dos problemas, das maçadas, das rotinas corrosivas que minam o meu quotidiano.
Sou professor. De rotinas nem me posso queixar muito. Acabo de dar uma aula a uma turma. Entre 10 e 25 minutos mais tarde, regresso à mesma sala para “dar” a mesma matéria. Só que o “público” é outro, a abordagem diferente. As carinhas com que tinha de me preocupar mais são outras, o modo de traduzir as mesmas ideias diverge também. Alegro-me e zango-me com eles de modos diversos. Talvez nem um actor se possa dar ao mesmo luxo. Afinal são as mesmas deixas, é o mesmo texto.
É também destas vivências que se faz o nosso riso. É errado pensar que os professores se riem das lacunas, dos erros, da ignorância dos alunos. Rimos, isso sim, da expressão desses factores. Não é o facto de um aluno não saber aquilo que já foi explicado, está no livro e foi escrito no caderno. É o modo como são feitas as perguntas, como “eles” exprimem a sua ignorância. Assim, o nosso riso não é uma troça, uma zombaria, uma inferiorização dos miúdos. É símbolo, às vezes, de uma tristeza por vermos que “a mensagem não passou”. Rimos perante a nossa impotência, por não podermos ir mais longe.
No fundo, as gargalhadas que soltamos são o “canto de cisne” pela ignorância que não conseguimos já debelar.
Parece um contra-senso. Rimo-nos (também) da forma de expressão de algo que nos toca todos os dias. Por outro lado, o nosso rir é a catarse dos nossos problemas quotidianos.
Em que ficamos? Rimo-nos de nós, acima de tudo.


Será pecado?

quinta-feira, 8 de junho de 2006

K

Tudo pela Nação...

Talvez haja alguém que acredite.
Talvez…
Estar com grupos de rapazes e raparigas e “passar-lhes” algo a que eufemisticamente chamam “competências”.
Estarão eles e elas interessados em conhecer melhor a sua Língua, o passado que nos dita o futuro, outras línguas/culturas, a Terra e os seres que nela habitam, as propriedades dos materiais com que lidam diariamente, em trabalhar com esses materiais…?
Que farão eles e elas com essa “bagagem”? Continuarão os seus estudos até estarem habilitados a trabalhar para e com o país? Quererão dar por terminados os seus estudos e aprender um ofício?
Um país precisa de nós. Todos!! “ Não pergunteis o que o vosso País pode fazer por vós! Perguntai, sim, o que podeis fazer pelo vosso País!”. Sábias palavras...
Não precisamos de “patriotinheiros”ou de “politicóides” a pensarem somente em si e a arrogarem-se ao direito de falarem e agirem em nome do “Povo”…
Todos somos úteis? Nem todos seremos dignos de o ser.
Há uma Pátria, um Povo, uma História que nos interpelam diariamente. Qual a nossa resposta? Servir? Não quero saber? Mais comummente “tou-me a…”?
Afinal quem somos? Os eternos expectantes de brumosas novas que nos resolvam uma “crise”? Uma “crise” que já se esgotou no conceito, no significado?
A revolta contra o “outro”a quem tudo é assacado?
Talvez seja tempo de crescer, como os rapazes e raparigas com quem lidamos diariamente.
Talvez…

terça-feira, 16 de maio de 2006

K

As muralhas de Jericó

K

Uma criança...

“Uma criança que não brinca será um adulto infeliz…”



A Ministra da Educação continua a opinar (e a legislar) de uma forma quase verborreica.
Agora são as celebérrimas aulas de substituição (eufemisticamente designadas por Ocupação dos Tempos Escolares; assim esses tempos não poderão ser contados como horas extraordinárias… fantástica “finta” à lei…). A prof. Maria de Lurdes Rodrigues considera que um docente que planeie faltar às aulas (consulta médica, exames de diagnóstico, etc.), deve deixar uma aula preparada para o colega que o vai substituir, sob pena de incorrer em falta injustificada. A ideia subjacente até faz sentido: os alunos continuariam o seu trabalho sem prejuízo da falta do seu professor. Imaginemos, no entanto, que o meu colega que me vai substituir nem sequer é da minha área (eu sou prof. de Físico-Químicas e, por exemplo, o meu colega lecciona Francês). Entrega a ficha aos alunos, tem as respostas, e surgem dúvidas na resolução; aí começam a aflorar os problemas… Falo por experiência própria: às minhas colegas que leccionam Estudo Acompanhado, entrego fichas que, invariavelmente, suscitam dúvidas; só nas minhas aulas é que são resolvidas.
Já houve mentes brilhantes neste país que consideraram que qualquer professor deve de estar preparado para leccionar qualquer matéria de qualquer disciplina; afinal trata-se um pouco de cultura geral: um prof. de Matemática deve falar inglês, um prof. de Filosofia deve saber dar uma aula de Física, e por aí fora. Quem assim se manifesta, tem uma ideia completamente fútil e irresponsável sobre o que é o Ensino e o mister de ensinar.
Em relação às aulas de substituição tenho uma maneira muito minha de pensar. Os alunos entram nas aulas às 9 horas da manhã e, o mais cedo que saem da escola, é às 4 das tarde. Agora que chegou a primavera/verão, levo os alunos para fora da sala de aula: jogar à bola, conversar…; claro, tudo sobre o meu campo de visão (sou assim uma espécie de guardião dos alunos e substituo-me ao trabalho das funcionárias, quero lá saber!). Excepções? Se houver trabalhos de casa, se necessitarem de estudar para um teste… Aliás, é sempre a primeira pergunta que lhes faço: quase sempre me respondem que nada têm para fazer. Assim, os 90 minutos de substituição tornam-se num “semi-furo”. Como dizia um colega meu: “Onde está agora a alegria do furo?”. Na minha escola praticamente não há clubes (os professores que não foram contratados fariam aí muita falta), assim mantenho a minha maneira muito própria de estar numa aula de substituição. Talvez um dia alguém do Conselho Executivo me proíba esta forma de realizar o meu trabalho, mas até lá…


“E as crianças, Deus meu?”

sexta-feira, 5 de maio de 2006

K

Para quando?

Para quando os ideais?
Para quando o crer?
Para quando o sacudir
dos olhos mornos, mortiços,
embaçados?…

A poeira desce;
encerra-nos, cobre-nos,
deixamo-la escorrer por nós,
pelo alento,
que há muito nos morre
sem o sabermos.
Há a força de não acreditar,
de não fazer,
de não subir os penhascos rudes, inquisitivos…
apenas o olhar para trás,
para a pegajosa, oblíqua poeira
que, dormente,
nos esquece os ideais, o acreditar…

Portugal ainda se não cumpre…

segunda-feira, 27 de março de 2006

K

Um sonho infantil

Tive um sonho: um grupos de crentes, um só espírito.
Queimar e destruir: o quê? O sistema fiduciário.
Organizaram-se em grupos e, em todas as sedes de todos os Bancos (especialmente o de Portugal), dedicaram-se à pirómana tarefa de queimar todas as notas (havia um pacto entre eles: NINGUÉM guardaria uma nota só que fosse).
Na noite seguinte, engrossava-se o grupo e eram as agências bancárias de todo o país a sofrer o mesmo "tratamento". Nessa mesma noite um grupo de ousados e bem equipados crentes assaltava a Casa da Moeda e fundia todas as moedas existentes.
Ao fim de poucos dias, era o caos. Apenas os comerciantes teriam dinheiro.
Para quê este despautério? Então as "luvas" por debaixo da mesa para fazer um favorzinho? Deixa-me construir aqui um empreendimentozito no Parque Natural, ou aqueles sobreiros estão ali a mais, ou a dívida do meu clube ao Estado não pode ser paga... Vamos organizar uma negociata e todos ficamos contentes... Querem mais exemplos?
Esta é a corrupção "à portuguesa": eu pago-te, tu ajudas-me e todos ficamos contentes...
É capaz de ser difícil passar um boi debaixo da mesa, talvez uma manada de vacas mudar subitamente de dono e de herdade dê um bocadinho nas vistas...
Egoísmo? O nosso comércio internacional? Bem, alguns portugueses ficariam bem expostos "lá fora" ao que se passava "cá dentro"... A vergonha para essa gente é capaz de não existir, mas...
Esse grupo poderia autodenominar-se "Restauradores de Consciências".
Talvez nada voltasse a ser como dantes.
É só pena ter sido apenas um sonho...

quinta-feira, 23 de março de 2006

K

Dia da Árvore/Dia da Poesia

21/3
As árvores dão-nos tanto, mas tanto, que deixo aqui um "TPC" para quem ler este textozinho: meditar em todas as coisas boas que as árvores nos dão.
Curiosamente (?), a Primavera é também o dia Poesia. Claro que os poemas, para serem divulgados, precisam também das árvores... (e já dos circuitos electrónicos, das memórias e toda aquela tralha apensa...).
Para que serve a poesia? Ou as outras formas de arte? Nesta época de consumismo bacoco, para nada.
Mas toda a actividade humana tem de ter um objectivo concreto? Comprar, vender, fazer pontes e estradas...?
A poesia desperta emoções e, se um poeta, conseguir despertar uma emoção estética num só leitor, já terá valido o seu esforço, a sua luta, a sua angústia. Há poemas que nos marcam, para mim o "Monstrengo" da "Mensagem" de Pessoa é um deles. E para vós, quantos outros?
Na escola onde trabalho, a bibliotecária (uma furiosa amante de livros e, ainda com o "handicap" de ter problemas relativamente graves de visão) copiou alguns poemas curtos (ou extractos) de grandes poetas, reduziu-os em pequenas folhas de papel e, com um cesto de verga, lá foi distribuindo pelos colegas. Afinal, há muitos mais amantes de poesia naquela casa do que eu suponha... Tiravam aos 2 ou 3, liam alto... foi uma diversão!
Aqui vos deixo um improviso (que como é o fim do texto, podem dar-se ao trabalho de o não ler):

Ler,
ler muito
e sentir cá no fundo,
que há músculos que tremem,
ao ler,
ao meditar.
Ler de quem nem se conhece,
ler de quem se esquece,
guardar,
num pequeno cofre precioso,
a razão das tremuras...
E quem escreve?
A procura obsessiva da palavra,
o gesto, ora vitorioso, ora angustiado;
as palavras começarem a jorrar,
a alegria, mesmo ansiosa,
de ver uma página a encher
com aquilo que é mesmo nosso,
é aquilo que queremos mesmo,
furiosamente.
O orgasmo do fim,
sem reler, sem corrigir,
o prazer não se corrige
(desfruta-se...).

sexta-feira, 17 de março de 2006

K

A exposição de quem governa

Li, há tempos, que as mudanças nas cadeiras do poder poucas melhorias irão provocar no estado das coisas, enquanto a massa anónima não evoluir de "per si".
O articulista quase que quer insinuar que "temos os políticos que merecemos". Infelizmente, o portuguesinho recebeu do leite materno os esquemazinhos, os dinheiritos por debaixo da mesa, o fechar os olhos quando convém, a espalhar o lixo por onde "porque agora tudo é biodegradável" (como se ele soubesse o que é a biodegradabilidade...), o escarro no chão; tantas coisas que ao europeu médio provocarão suores frios.
Não é com esta incivilidade que o país avança, não é com economias paralelas que valem milhões e nada contribuem para o Estado, não é com a nossa "chico-espertice" que sequer dobraremos a esquina para ir vender alfinetes a Badajoz...
A responsabilidade é nossa; e Sicrano do X ou Beltrano do partido Y não terão grande margem de manobra para as famosas "reformas estruturais" que nos são prometidas desde há não sei quantas legislaturas.
Miguel Esteves Cardoso escreveu, num momento de inspiração, que "em Portugal, nada se consegue, mas tudo se arranja." Já agora, sacudamos esta preguiçazinha que nos ensombra e "arranjemos maneiras de todos sermos mais civilizados, mais honestos e, já agora, um pouco altruístas.
Olhem que este "arranjinho" não nos ficaria nada mal.

"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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