sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

K

(???)


Tão perto

e o outro

vai-se esfumando,

a memória

já não lhe toca.

Há outros cheiros,

há outras cores nos ares;

olhos vidrados no nada,

pendurados em ninguém,

presos aos olhos

de quem passa,

silenciosos

revirando o chão.

Amor é nada,

vai,

deixa, deixa o obscuro gosto,

da ausência;

amor é nada,

deixa o travo da espera,

do frio nos braços

entrelaçados

em si.

Amar,

é amar o que não foi,

a fantasia,

o querer,

querer que o outro

fosse o que não era.

O amor sempre partiu,

numa fuga

infame.

(...)

Amor?

Melhor o frio

sem memória...
(a partir de um pensamento de blindness)
(Fotografia de J.N.)

domingo, 9 de dezembro de 2007

K

nós?

e eu quero,
um nó de forca,
para bem longe.
longe, afastado,
e os meus tempos
caminham furtivos,
assim a passo rápido
e distante,
onde as palavras já não se dizem,
onde nada existe;
e o húmus escorrendo pelas veias do tempo,
lembra este absurdo,
de uma vida que se torce,
não vem,
não retorna de sítio algum.
ao sabor da corrente
seguem memórias,
a alma calou-se há muito,
e há um cego
e um violino
à esquina do marulhar da solidão...

(a partir de um poema de blindness)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

K

Esgueirando-me pelo tempo

Esgueiro-me pelas colunas do tempo,
rastejo entre as ervas altas de muitos verões.
Espalhadas as estátuas
lembram um futuro que não houve,
subitamente.
Colunas vazias,
não há docéis,
tapetes.
Sacerdotes erguendo oferendas
fumegantes,
ostensivas,
soberbas
em altares inesquecíveis;
tudo longe,
aras quebradas,
deuses anónimos,
um passado olhando o hoje
que agora se não vê.
Apenas o meu rastejar,
trémulo, escasso,
fugindo às poeiras de ontem,
as ervas ocultando
quem não tem memórias
de um tempo
em que os deuses
com um sorriso
possuíam tudo,
possuíam todos...

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

K

"We all..."

Standing bellow the thin thread
of the void, shamelessly looking
at a point I could not reach,
I tried to keep my loneliness
untouched,
almost invisible.
I heard the noises
of ancient marches:
the flutes,
the violins,
all the dreams,
that made my heart
to jump forward,
into time,
to bounce
into space,
unveiling myself,
exposing me.
And still I stood
all by myself,
old,
ancient memories
trying to knock me out...(...)
All of a sudden
I heard voices,
songs.
A hand over my shoulder
and shouts of joy
all around me:
"We all stand together!!!!!!!"
(from a blindness's audio post )

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

K

O sonho da morte

Entre todos os caminhos,
no fim de qualquer atalho,
a morte espera-nos.
Atávica, serena da certeza,
sempre sedutora,
o não-ser que nos atrai,
num voo letal
e desejado
pelas colinas do tempo.
Ficam longe
os vagidos da primeva vida,
as alegrias
das idades de ouro.
Por entre as paredes,
esconças,
algures nas veredas,
abandonamo-nos,
ao fascínio
do último voo...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

K

Um sonho

Suster o sonho,
reter a vida,
agarrar-me a mim,
na sombra de um suspiro.
Não há roteiros,
entrelaço-me nas urzes
do tempo;
não sigo caminho,
nem trilho;
tropeço ofegante
num sonho de outro;
apenas deslizam
em fogos fátuos
de orvalho e hera;
imóvel, abraço um vento antigo,
arfando cores
e brilhantes de mil e novecentos...

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

K

Entre rochas


Há pedras

que caminham nas minhas costas

há tanto tempo

que me estão incrustadas.

Longas as esperas,

longo o tempo,

em que me vejo,

só,

só as pedras

sempre comigo.

Caminho direito,

no meio de sonhos,

entrecruzados de mentiras...

solto-me,

as pedras vêm,

e o caminho igual,

quase ressentido

desta constância,

constante da rocha

que me faz igual a mim mesmo,

enquanto vou,

quase vacilante,

por veredas

(caminhos esquecidos)

para que as minhas pedras

não sejam tropeço

para mais ninguém.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

K

(tempo...)

É quarta-feira..
os dias escorrem
semana fora;
tenho em mim
o sabor do tempo,
do tempo em que o pó
se levantava, ante mim,
uma vaga de miséria pois...
ela subia,
subia,
subia mais ainda,
pendurando-me nos reposteiros
de ontem...
Ontem, já não era terça,
esgotou-se o tempo,
o tempo do pó (...)
ainda não há marés,
marés daquelas
em que a água afaga o pó,
daquelas em que o fogo
se engole em fúria,
daquelas em que ficamos
vivos e,
e no espanto,
do absurdo de um tempo,
de um tempo que não se afasta,
que foge quarta-feira adentro,
e não queremos quinta,
e ele já nos chama Domingo à noite,
na pressa,
na angústia
de um relógio parado,
na míngua de um nó na garganta,
no desejo da fuga p'ra trás...
(...agora e para sempre...)

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

K

Verbo


Um fio dourado

cerrou-me

nas grades das palavras,

há maresias que entram

e se esvaem;

sortilégios sem chama,

versos fugidios,

fugas sem tocata,

e um ar

inexpressivo

que trepa caos acima

e se aninha nestas grades,

onde a palavra se esmera

e me traz

de volta ao verbo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

K

Declínio

fecham-se os lábios;
há rimas que escorrem,
em ruídos infames;
trepam lentas,
pelos penedos da memória
e regressam espumando a denúncia,
entre trinados de mentira,
de salvas
pardas de silêncios
de mentira,
deslizando pelo ardor de uma verdade,
pura,
que já ninguém sabe,
que já ninguém quer.
(a partir de um pensamento de musalia)
K

ir e voltar...

...
e areia
e seixos
e abraços...
vieram nas ondas
em rendas de esperança.
Abracei o mar,
e, com ele, tudo!
Fundo-me
entre algas,
maduras,
prenhas de aventuras
que não conto...
O mar trouxe o que mais queria,
e num horizonte claro,
lavado,
as mãos juntas
em oração de escuta,
e há cores que esvoaçam
em cânticos longínquos.

(a partir de um poema de blindness)

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

K

...em suave queda...

...um tempo marcado,
uma música
em suspiros
que decaem
suaves.
Nesses tempos, a harpa sorria
em tons de azul,
em si maior,
quase rejubilava.
Então,chegou o outro tempo
(o das fábulas obscuras...)
em que nem a cítara
ou a harpa
já sorriam;
o desfeito horizonte,
já nem marcava
a síncope,
e as marés
já nem escorregavam
noite fora;
as águas eram
(agora)
taciturnas,
e o sortilégio era já
o da memória
(tão em deslize,tão inclinada!)
enquanto todas as mãos
se dirigiam
a uma espiral de vento...

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

K

Los niños imaginados

Niños llejanos...
E no rasto que deixaram
há um lago
bordado a pincel,
na distância louca
dos pés fugidios...
Pontinhos ao longe,
que nos levam à quase loucura
de não podermos
brincar, de novo,
a nossa infância
matizada
de passados que o não foram,
e escorrem p'los nossos lábios luminosos
ardentes de memória.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

K

Caminho

Pelas minhas roupas
escorre o sentido do mar;
o sal dobra-se
em esqueleto bordado;
há algas
que tentam perfilar-se
num ir e vir de marés.
Caminho.
Pés submersos,
morna a areia que queima;
vestes levadas
num quase-vento destroçado.
O Sol foge,
foge muito pelas águas antigas.
Vou caminhando.
Semicerro-me
e nada mais lobrigo,
a não ser o enrodilhado,
o revolvido,
das ondas furtivas.
No caminho,
arrasto tristezas
que se não dissolvem,
quase turbulentas,
vão assaltando
algo em mim.
Nada me sobra,
a não ser o caminho ensurdecedor,
pastoso de tanta água,
de tantas febres que o fendem,
pária de si mesmo,
lentamente
numa fuga sem fim...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

K

LouCura

A vida imóvel,
escorrendo-se
entre sombras,
a meio dos dedos.
Entre os lírios,
vão-se esbatendo
as memórias de um Sábado;
um Sábado de missa
sem sacerdote,
fugido a Deus;
esperamos à porta,
nem o Senhor aparece.
Imóvel,
sem sonhos,
os lírios esmagados,
em sonhos
dá-nos a mão,
sorri
e enleva-nos tão alto,
naquele traço imóvel
que se estende
e se entretece
na nossa loucura...

terça-feira, 18 de setembro de 2007

K

Apalavra

Agora quero criar a Palavra,
entre funis de alento,
no fundo da jornada,
nas roseiras vermelhas
em sangue dos outros,
entre rugidos de esperança.

Quero a Palavra,
e dela ser digno;
fugir,
ser o nada por ela,
e nela me embalar,
entre espuma,
entre algas de alegria,
no meio dos outros,
nada sabendo de mim...

quarta-feira, 4 de julho de 2007

K

Linhas... imagens...

A linha ténue
entre a sanidade
e a loucura,
vai sendo traçada
por um dedo
ensaguentado,
que, no seu desespero,
procura não ficar
do lado de lá...
porque escuta e vê
o que mais ninguém
escuta ou vê.
Acocora-se,
o dedo em riste,
as lágrimas quase rebentam
de uns olhos negros.
A ténue linha
entre a realidade e a loucura....

Nada difere
entre o meu corpo
e a sua imagem
no espelho...


(inspirado num poema de Shoshana)

sábado, 30 de junho de 2007

K

Deserto

Caladas as palavras,
sentado em mim,
cobre-me a solidão...

Calada a luz,
em alva negritude,
espalha-se
qual balde de sangue,
em cerimónia
pagã.

Arfando
vem o deserto;
em mim, nesgas
(farrapos)
acolhem-no,
como as palavras
(caladas)...


(inspirado num poema de Moriana)

quarta-feira, 20 de junho de 2007

K

(...)

Quero deitar-me
na fagulha,
e entrever
o céu
por entre os pinhais,
quero ser bafo,
bafo ardente.

Quero deslocar-me
ao sabor de mim,
quero ser luz,
água,
água alumiada.
Não quero mais obscuridade,
nem gélidas sensações...

Agora,
a liberdade,
tão esperada
o canto que vem
unânime....
a espada que se embainha
o fogo domesticado...
K

Divertimento em espera

Abafo um grito.
De rudeza, espero.
Por ti, a minha voz.
Eleva-se, qual pardal.
De telhado, ao sol.
Detalha a pele,
remira o sonho.

É o tempo das esperas.
Das brasas cruas.
Cru é o tempo
em que vives,
acocorada,
esperando...

quarta-feira, 6 de junho de 2007

K

A Deus

Ressoavam ecos,
entre altares labirínticos,
em templos há muito sepultados;
num adeus longínquo, saudoso.
Mil vozes entoando,
subindo em crescendo, alargando,
expandindo, pulsando
nos corredores duma memória,
tão adormecida, esquecida,
dormente de um Deus
há tanto tempo
esperando a Criação,
que lhe fora virando costas,
desaparecera,
nem Ele sabia para onde…

Hoje, a Deus.
Agora, a Deus, devotos.
Desprezados,
torturados,
esmagados,
num Reino que o Senhor disse
não ser o Seu…
Joelhos pregados,
mãos juntas,
erguidas,
numa prece lenta, sem pressa,
numa prece já esquecida por Deus…
Debruçou-se, então, sobre a Terra,
criação Sua,
enlevo Seu.
Suas mãos aconchegaram
o Seu Povo crucificado.
(Mãos de Deus num enlevo nas mãos juntas dos homens).
Deus suavemente silenciou
os Seus anjos.

E uma Paz já esquecida,
flutuou sobre o Pastor,
iluminou o Seu rebanho,
suave, docemente....


(16/08/97)

terça-feira, 5 de junho de 2007

K

Vagas antigas revolteavam

sem nexo,

iam, voltavam...

nesgamente assomavam

os rudes trombos que s'iravam.


Travavam contra as naves

e soavam,

soavam pétreos os madeiros,

que salvavam

os homens que suavam,

mantendo a derrota.


E as vagas inconscientes

do seu poder,

dementes

quási quebravam, dormentes

aqueles que por mister

o prometer era não ser

alga, areia, pedra....

escurecer...


(25/03/91)

domingo, 3 de junho de 2007

K

Gotas de cinza

Como sombras,
evolamo-nos,
ardentes e cinza,
lentamente
tornamo-nos
ar e sopro
e, obliquamente,
desvanecemo-nos
em nada,
quase de soslaio...

sábado, 26 de maio de 2007

K

Palavras, só...



As palavras esvaem-se

fluidas,

inspiro-as

num vão tentar

de poema...


Muito longe,

tão ao longe que nem se sente,

o fluxo das palavras,

embalado por um assobio ancestral

e por uma lua amarelada,

vai-se tornando poesia,

que eu gostaria de ter,abraçada,

para, abençoado,sentir parte nela...

Mas a ancestralidade do fino assobio

mantém-me distante,

no silêncio dos deuses

esquecidos...
(inspirado num poema de Moriana)

sexta-feira, 25 de maio de 2007

K

Ainda é o tempo das amoras...

Na vereda verde,
teus passos impacientes
levam-te a montanhas
de que nem o nome se sabe.
Teus olhos miram,
e a sua transparência afoga luas,
ainda vivas de lava.
Ainda é o tempo das amoras,
que tu colhes sorrindo-lhes.
E teus passos impacientes,
apressados, estugados,
têm tempo para ver
o desabrochar duma flor,
o voo dum colibri,
o renascer da esperança....
K

Passaredo


O passaredo
voa e revoa,
liberta-se do ar e de si...

Ai passarada...
cânticos ancestrais,
trazidos pelos ares,
levados por esse passaredo,
que voa e revoa,
e nos leva com ele,
e rouba-nos às planuras altaneiras,
e traz de volta
o pó que nós somos...

(5/4/06)



sexta-feira, 11 de maio de 2007

K

Fusão


Dei-te uma mão vazia de sentido,
teus passos apressados levaram-na,
sem olharem as tulipas
que iam e vinham,
numa maré de sal-cor.

Voltaram teus passos apressados,
procuraram o que havia na minha mão;
sentei-me a um canto,
nem viste a ausência da mão.
Vi afastares-te,
acompanhada pelas tulipas,
fundindo-se teus passos com a maresia…

sábado, 5 de maio de 2007

K

Rio


O Teja que tudo limpa,
varre as saudades,
leva as farpas doces,
o ser que fui,
a melancolia agreste,
pedaços de maresia
calcam a minha vida,
assassinada todos os dias,
retornada sempre
em fios de névoa
espartilhados pelas velas antigas
de barcos que foram
e levaram memórias
(até de mim);
iço-me ao espelho
do tempo
e apenas revejo a neblina
no meu rio
que banha a minha aldeia.
K

Fala-me...

Fala-me ao ouvido, sim
diz-me onde foste
esbragar paredes
para te doerem as mãos,
diz-me se os malmequeres
ainda crescem perto dos ninhos das cobras,
se as borboletas ainda se escapam
por entre as garras dos açores;
fala-me do ponto
onde tudo acontece
e a vida cristalizou;
fala-me de ti
de ti só
sozinho,
lânguido,
suspenso entre o cá e o lá...

domingo, 29 de abril de 2007

K

sexta-feira, 27 de abril de 2007

K

vinte e cinco do quatro de setenta e quatro


A madrugada,

fria,

escorrente de humidade,

de memórias infames,

essa madrugada amanheceu;

os punhos a esmagar as memórias,

as botas a pisotear um passado,

um passado mesmo de longe.

Nas passagens, a Liberdade renascia em cada tempo,

e, pela primeira vez,

as madrugadas já não eram húmidas,

as memórias eram sonhos,

e só faltava cumprir-se Portugal!!!

sábado, 14 de abril de 2007

K

Espaço ponto Tempo

Deste-me um tempo renovado em cada dia;

renova-se o sabor de si mesmo

quando se lança com fragor,

ruído, alfa e ómega,

sobre o espaço

que se vai encurvando,

os limites cada vez menores,

quási lineares.

O tempo

esgrime com elegância,

a sua curvatura,

avançando sempre, sempre,

apenas se renovando na minha dádiva.
K

Corazón partio

Meus olhos pesavam,
mas a tristeza ficou tinta
de teu sangue;
não ficaram lavados, quanto mais limpos;
cego fiquei
sob a aurora viva.
Feliz,
caí de borco,
mãos agarrando as pedras,
pés empurrando-as...
nem me levantava,
porque não se pode atirar o coração
à queima-roupa...

sexta-feira, 13 de abril de 2007

K

Coração

Meus olhos pesavam,
mas a tristeza ficou tinta
de teu sangue;
não ficaram lavados,
quanto mais limpos;
cego fiquei
soba a aurora viva,
feliz,
caí de borco,
mãos agarrando as pedras,
pés empurrando-as...
nem me levantava,
porque não se pode atirar o coração
à queima-roupa...

terça-feira, 10 de abril de 2007

K

...

Cada mão segura uma vida,
diferentes ambas.
Espiralam-se num fio
que as segura
e ameaça....
No limite do ser,
as águas do início
primordial,
trazem uma vida a cada mão,
para que a candura e a ameaça
caminhem lado a lado...

domingo, 1 de abril de 2007

K

Vazios

O silêncio do meu eco basta-me.
Memórias foram-se apagando: fotos rasgadas que os pés teimosamente repisaram, músicas distorcidas em memórias magnéticas, instantâneos de pensamentos sendo conquistadas pela negritude do nada.
As conversas morreram desde a última letra. Talvez nem tenha tido a força de seguir um derradeiro gesto.
Só relembro Santo Agostinho, último livro ainda comprado contigo. Talvez o seu saber tenha inspirado a partida.
Talvez seja apenas esse nome a corda que restou, presa a um cais de memórias vazias.
(...)
Bastam-me o silêncio do eco e o cais de memórias vazias...

quarta-feira, 28 de março de 2007

K

Esboço


Da boca afogada, saiu um qualquer gemido. Sentada, hirta, as costas pareciam um espaldar.
Esperava; pontos de água pura rendilhavam-lhe as faces vermelhas, cor dos olhos.
As mãos retorciam-se num trapo velho mas alvo.
Gemeu de novo. O banco de madeira onde se sentara acompanhou-a.
Os pés cruzados, firmes no chão de pedra, as mãos sem parar.
Os olhos, fogo apagado, miravam para lá da parede, para lá...
Não soluçava, apenas, a espaços, um gemido, as faces brilhantes...

(...)

Fechei os olhos; em toda aquela imagem viva, sofredora, dolorosa, esmagada, não era necessário depor um corpo; ela era uma Pietà...

sexta-feira, 2 de março de 2007

K

A brisa arrastou-me,

tranquila.

Suspenso,

passeei pelos largos vales

estendidos naquele azul

quase quase modesto,

tímido.

Agarrei as nuvens,

fiz com elas paz;

sorriu-me um anjo,

corei de pudor.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

K
Cruzou-se os braços,
as pernas abandonadas,
a cabeça baixa.
O medo da espera,
daquela espera
por algo que não sabia.
Uma palavra,
uma deixa,
uma senha de liberdade;
mas apenas os joelhos lhe respondiam,
encalhados
na parede enegrecida.
Nem lembrava já o Sol,
a luz...
Só aquela sombra
que o embrulhava,
que o esmagava...

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

K

Partida

Lentamente,
ia-se consumindo.
Não tinha dores já.
Enrolava-se
sobre si própria,
a parede a esboroar-se,
do outro lado
o soalho
em vigas esburacadas;
A vida esvaía-se,
numa solidão morna.
Nem ousava olhar para cima;
Deus talvez a mirasse,
piedoso,
as mãos expectantes,
por entre as fendas do tecto.
Esperava passiva
que tudo se consumasse;
mas a dor,
aquela dor final
por que ansiava,
não irrompia nela.
(...)
Recordou-se então:
abriu os braços,
o queixo sobre o peito;
e nesse crucifixo,
assim partiu...

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

K

Sol


O sol baixava
num horizonte equilátero,
espalhava-se,
quase quieto.
As águas,
os montes,
abraçavam-no,
em jeito de cor.
O marulhar,
as folhagens,
o passaredo,
todos o seduziam
num cair,
tão lento,
tão fugaz,
tão estrepitosamente vermelho,
num azul em fundo.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

K

Solar

É em sóis que nos desnudamos,
na busca do calor
que nos veste de desconhecido.
É em sóis que procuramos
verdes folhas
que nos consolam
em pálidos arbustos...
Um mar iluminado
pelo triângulo solar,
engole-nos,
lenta,
suavemente.
Termina, pois,
a nossa busca...

domingo, 4 de fevereiro de 2007

K

Contentamento

Gostava de me espreguiçar,
assim preguiçosamente;
(num acordar meio nublado...)
e que as minhas mãos tocassem o céu,
os meus braços, o mar;
e sentisse o alegre aroma das flores,
esvair-se pelas minhas pernas;
e que a minha cabeça repousasse
sobre almofadas de nuvens...
e assim ficasse,
todo êxtase,
todo puro,
todo esquecido de mim...

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

K

Alentejo













Uma velha,
a alma enlutada,
uma parede caiada,
um monte esquecido,
um chão ardido...

Eis tudo o que vejo
no meu Alentejo...

"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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