sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
Kdomingo, 9 de dezembro de 2007
Knós?
um nó de forca,
para bem longe.
longe, afastado,
e os meus tempos
caminham furtivos,
assim a passo rápido
e distante,
onde as palavras já não se dizem,
onde nada existe;
e o húmus escorrendo pelas veias do tempo,
lembra este absurdo,
de uma vida que se torce,
não vem,
não retorna de sítio algum.
ao sabor da corrente
seguem memórias,
a alma calou-se há muito,
e há um cego
e um violino
à esquina do marulhar da solidão...
(a partir de um poema de blindness)
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
KEsgueirando-me pelo tempo
rastejo entre as ervas altas de muitos verões.
Espalhadas as estátuas
lembram um futuro que não houve,
subitamente.
Colunas vazias,
não há docéis,
tapetes.
Sacerdotes erguendo oferendas
fumegantes,
ostensivas,
soberbas
em altares inesquecíveis;
tudo longe,
aras quebradas,
deuses anónimos,
um passado olhando o hoje
que agora se não vê.
Apenas o meu rastejar,
trémulo, escasso,
fugindo às poeiras de ontem,
as ervas ocultando
quem não tem memórias
de um tempo
em que os deuses
com um sorriso
possuíam tudo,
possuíam todos...
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
K"We all..."
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
KO sonho da morte
no fim de qualquer atalho,
a morte espera-nos.
Atávica, serena da certeza,
sempre sedutora,
o não-ser que nos atrai,
num voo letal
e desejado
pelas colinas do tempo.
Ficam longe
os vagidos da primeva vida,
as alegrias
das idades de ouro.
Por entre as paredes,
esconças,
algures nas veredas,
abandonamo-nos,
ao fascínio
do último voo...
terça-feira, 20 de novembro de 2007
KUm sonho
reter a vida,
agarrar-me a mim,
na sombra de um suspiro.
Não há roteiros,
entrelaço-me nas urzes
do tempo;
não sigo caminho,
nem trilho;
tropeço ofegante
num sonho de outro;
apenas deslizam
em fogos fátuos
de orvalho e hera;
imóvel, abraço um vento antigo,
arfando cores
e brilhantes de mil e novecentos...
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
KEntre rochas
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
K(tempo...)
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Kquinta-feira, 18 de outubro de 2007
KDeclínio
ir e voltar...
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
K...em suave queda...
uma música
em suspiros
que decaem
suaves.
Nesses tempos, a harpa sorria
em tons de azul,
em si maior,
quase rejubilava.
Então,chegou o outro tempo
(o das fábulas obscuras...)
em que nem a cítara
ou a harpa
já sorriam;
o desfeito horizonte,
já nem marcava
a síncope,
e as marés
já nem escorregavam
noite fora;
as águas eram
(agora)
taciturnas,
e o sortilégio era já
o da memória
(tão em deslize,tão inclinada!)
enquanto todas as mãos
se dirigiam
a uma espiral de vento...
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
KLos niños imaginados
E no rasto que deixaram
há um lago
bordado a pincel,
na distância louca
dos pés fugidios...
Pontinhos ao longe,
que nos levam à quase loucura
de não podermos
brincar, de novo,
a nossa infância
matizada
de passados que o não foram,
e escorrem p'los nossos lábios luminosos
ardentes de memória.
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
KCaminho
escorre o sentido do mar;
o sal dobra-se
em esqueleto bordado;
há algas
que tentam perfilar-se
num ir e vir de marés.
Caminho.
Pés submersos,
morna a areia que queima;
vestes levadas
num quase-vento destroçado.
O Sol foge,
foge muito pelas águas antigas.
Vou caminhando.
Semicerro-me
e nada mais lobrigo,
a não ser o enrodilhado,
o revolvido,
das ondas furtivas.
No caminho,
arrasto tristezas
que se não dissolvem,
quase turbulentas,
vão assaltando
algo em mim.
Nada me sobra,
a não ser o caminho ensurdecedor,
pastoso de tanta água,
de tantas febres que o fendem,
pária de si mesmo,
lentamente
numa fuga sem fim...
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
KLouCura
escorrendo-se
entre sombras,
a meio dos dedos.
Entre os lírios,
vão-se esbatendo
as memórias de um Sábado;
um Sábado de missa
sem sacerdote,
fugido a Deus;
esperamos à porta,
nem o Senhor aparece.
Imóvel,
sem sonhos,
os lírios esmagados,
em sonhos
dá-nos a mão,
sorri
e enleva-nos tão alto,
naquele traço imóvel
que se estende
e se entretece
na nossa loucura...
terça-feira, 18 de setembro de 2007
KApalavra
entre funis de alento,
no fundo da jornada,
nas roseiras vermelhas
em sangue dos outros,
entre rugidos de esperança.
Quero a Palavra,
e dela ser digno;
fugir,
ser o nada por ela,
e nela me embalar,
entre espuma,
entre algas de alegria,
no meio dos outros,
nada sabendo de mim...
quarta-feira, 4 de julho de 2007
KLinhas... imagens...
entre a sanidade
e a loucura,
vai sendo traçada
por um dedo
ensaguentado,
que, no seu desespero,
procura não ficar
do lado de lá...
porque escuta e vê
o que mais ninguém
escuta ou vê.
Acocora-se,
o dedo em riste,
as lágrimas quase rebentam
de uns olhos negros.
A ténue linha
entre a realidade e a loucura....
Nada difere
entre o meu corpo
e a sua imagem
no espelho...
(inspirado num poema de Shoshana)
sábado, 30 de junho de 2007
KDeserto
sentado em mim,
cobre-me a solidão...
Calada a luz,
em alva negritude,
espalha-se
qual balde de sangue,
em cerimónia
pagã.
Arfando
vem o deserto;
em mim, nesgas
(farrapos)
acolhem-no,
como as palavras
(caladas)...
(inspirado num poema de Moriana)
quarta-feira, 20 de junho de 2007
K(...)
na fagulha,
e entrever
o céu
por entre os pinhais,
quero ser bafo,
bafo ardente.
Quero deslocar-me
ao sabor de mim,
quero ser luz,
água,
água alumiada.
Não quero mais obscuridade,
nem gélidas sensações...
Agora,
a liberdade,
tão esperada
o canto que vem
unânime....
a espada que se embainha
o fogo domesticado...
Divertimento em espera
De rudeza, espero.
Por ti, a minha voz.
Eleva-se, qual pardal.
De telhado, ao sol.
Detalha a pele,
remira o sonho.
É o tempo das esperas.
Das brasas cruas.
Cru é o tempo
em que vives,
acocorada,
esperando...
quarta-feira, 6 de junho de 2007
KA Deus
entre altares labirínticos,
em templos há muito sepultados;
num adeus longínquo, saudoso.
Mil vozes entoando,
expandindo, pulsando
nos corredores duma memória,
tão adormecida, esquecida,
dormente de um Deus
há tanto tempo
que lhe fora virando costas,
desaparecera,
nem Ele sabia para onde…
Agora, a Deus, devotos.
Desprezados,
torturados,
esmagados,
num Reino que o Senhor disse
não ser o Seu…
Joelhos pregados,
mãos juntas,
erguidas,
numa prece lenta, sem pressa,
numa prece já esquecida por Deus…
criação Sua,
enlevo Seu.
Suas mãos aconchegaram
o Seu Povo crucificado.
(Mãos de Deus num enlevo nas mãos juntas dos homens).
Deus suavemente silenciou
os Seus anjos.
E uma Paz já esquecida,
flutuou sobre o Pastor,
iluminou o Seu rebanho,
(16/08/97)
terça-feira, 5 de junho de 2007
Kdomingo, 3 de junho de 2007
KGotas de cinza
evolamo-nos,
ardentes e cinza,
lentamente
tornamo-nos
ar e sopro
e, obliquamente,
desvanecemo-nos
em nada,
quase de soslaio...
sábado, 26 de maio de 2007
KPalavras, só...
As palavras esvaem-se
sexta-feira, 25 de maio de 2007
KAinda é o tempo das amoras...
de que nem o nome se sabe.
Teus olhos miram,
e a sua transparência afoga luas,
ainda vivas de lava.
Ainda é o tempo das amoras,
que tu colhes sorrindo-lhes.
E teus passos impacientes,
apressados, estugados,
têm tempo para ver
o desabrochar duma flor,
o voo dum colibri,
o renascer da esperança....
sexta-feira, 11 de maio de 2007
KFusão
teus passos apressados levaram-na,
sem olharem as tulipas
que iam e vinham,
numa maré de sal-cor.
Voltaram teus passos apressados,
procuraram o que havia na minha mão;
sentei-me a um canto,
nem viste a ausência da mão.
Vi afastares-te,
acompanhada pelas tulipas,
sábado, 5 de maio de 2007
KRio
varre as saudades,
leva as farpas doces,
o ser que fui,
a melancolia agreste,
pedaços de maresia
calcam a minha vida,
assassinada todos os dias,
retornada sempre
em fios de névoa
espartilhados pelas velas antigas
de barcos que foram
e levaram memórias
(até de mim);
iço-me ao espelho
do tempo
e apenas revejo a neblina
no meu rio
que banha a minha aldeia.
Fala-me...
diz-me onde foste
esbragar paredes
para te doerem as mãos,
diz-me se os malmequeres
ainda crescem perto dos ninhos das cobras,
se as borboletas ainda se escapam
por entre as garras dos açores;
fala-me do ponto
onde tudo acontece
e a vida cristalizou;
fala-me de ti
de ti só
sozinho,
lânguido,
suspenso entre o cá e o lá...
domingo, 29 de abril de 2007
Ksexta-feira, 27 de abril de 2007
Kvinte e cinco do quatro de setenta e quatro
sábado, 14 de abril de 2007
KEspaço ponto Tempo
renova-se o sabor de si mesmo
quando se lança com fragor,
ruído, alfa e ómega,
sobre o espaço
que se vai encurvando,
os limites cada vez menores,
quási lineares.
O tempo
esgrime com elegância,
a sua curvatura,
avançando sempre, sempre,
apenas se renovando na minha dádiva.
Corazón partio
mas a tristeza ficou tinta
de teu sangue;
não ficaram lavados, quanto mais limpos;
cego fiquei
sob a aurora viva.
Feliz,
caí de borco,
mãos agarrando as pedras,
pés empurrando-as...
nem me levantava,
porque não se pode atirar o coração
à queima-roupa...
sexta-feira, 13 de abril de 2007
KCoração
mas a tristeza ficou tinta
de teu sangue;
não ficaram lavados,
quanto mais limpos;
cego fiquei
soba a aurora viva,
feliz,
caí de borco,
mãos agarrando as pedras,
pés empurrando-as...
nem me levantava,
porque não se pode atirar o coração
à queima-roupa...
terça-feira, 10 de abril de 2007
K...
diferentes ambas.
Espiralam-se num fio
que as segura
e ameaça....
No limite do ser,
as águas do início
primordial,
trazem uma vida a cada mão,
para que a candura e a ameaça
caminhem lado a lado...
domingo, 1 de abril de 2007
KVazios
Memórias foram-se apagando: fotos rasgadas que os pés teimosamente repisaram, músicas distorcidas em memórias magnéticas, instantâneos de pensamentos sendo conquistadas pela negritude do nada.
As conversas morreram desde a última letra. Talvez nem tenha tido a força de seguir um derradeiro gesto.
Só relembro Santo Agostinho, último livro ainda comprado contigo. Talvez o seu saber tenha inspirado a partida.
Talvez seja apenas esse nome a corda que restou, presa a um cais de memórias vazias.
(...)
Bastam-me o silêncio do eco e o cais de memórias vazias...
quarta-feira, 28 de março de 2007
KEsboço
Esperava; pontos de água pura rendilhavam-lhe as faces vermelhas, cor dos olhos.
As mãos retorciam-se num trapo velho mas alvo.
Gemeu de novo. O banco de madeira onde se sentara acompanhou-a.
Os pés cruzados, firmes no chão de pedra, as mãos sem parar.
Os olhos, fogo apagado, miravam para lá da parede, para lá...
Não soluçava, apenas, a espaços, um gemido, as faces brilhantes...
(...)
Fechei os olhos; em toda aquela imagem viva, sofredora, dolorosa, esmagada, não era necessário depor um corpo; ela era uma Pietà...
sexta-feira, 2 de março de 2007
Ksexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
Kas pernas abandonadas,
a cabeça baixa.
O medo da espera,
daquela espera
por algo que não sabia.
Uma palavra,
uma deixa,
uma senha de liberdade;
mas apenas os joelhos lhe respondiam,
encalhados
na parede enegrecida.
Nem lembrava já o Sol,
a luz...
Só aquela sombra
que o embrulhava,
que o esmagava...
terça-feira, 13 de fevereiro de 2007
KPartida
ia-se consumindo.
Não tinha dores já.
Enrolava-se
sobre si própria,
a parede a esboroar-se,
do outro lado
o soalho
em vigas esburacadas;
A vida esvaía-se,
numa solidão morna.
Nem ousava olhar para cima;
Deus talvez a mirasse,
piedoso,
as mãos expectantes,
por entre as fendas do tecto.
Esperava passiva
que tudo se consumasse;
mas a dor,
aquela dor final
por que ansiava,
não irrompia nela.
(...)
Recordou-se então:
abriu os braços,
o queixo sobre o peito;
e nesse crucifixo,
assim partiu...
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007
Kterça-feira, 6 de fevereiro de 2007
KSolar
na busca do calor
que nos veste de desconhecido.
É em sóis que procuramos
verdes folhas
que nos consolam
em pálidos arbustos...
Um mar iluminado
pelo triângulo solar,
engole-nos,
lenta,
suavemente.
Termina, pois,
a nossa busca...
domingo, 4 de fevereiro de 2007
KContentamento
assim preguiçosamente;
(num acordar meio nublado...)
e que as minhas mãos tocassem o céu,
os meus braços, o mar;
e sentisse o alegre aroma das flores,
esvair-se pelas minhas pernas;
e que a minha cabeça repousasse
sobre almofadas de nuvens...
e assim ficasse,
todo êxtase,
todo puro,
todo esquecido de mim...
sexta-feira, 19 de janeiro de 2007
K"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
-
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)