quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

K

Para lá...

Sentou-se no lusco-fusco

entre duas pedras de maresia.

Um vento de além-vida

cobria-lhe gentilmente

os cabelos de sal.

Sentara-se ali

havia minutos;

trezentos e noventa anos antes,

uma memória vislumbrara

a nesga do porvir duma nação,

aquilo que a salvaria

de si mesma.

Um rei, um príncipe, um povo,

"uma Fé, um Império".

Sobrara o sonho, os cabelos salinos.

Um vento carregado de naus

enchia-lhe os pulmões

e o sentir,

de uma História

que lhe era tão hereditária

como a cor dos cabelos de sal.

Uma Nação fora para lá de Alexandre,

no seu regresso trouxera o esquecimento...

a que nem Alexandre fora votado.


"Malhas que o Império tece..."
(imagem retirada da net)


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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

K

parti - turas

As fronteiras esparsas,
os vincos estreitos.
A tristeza submersa
em olhos de carregados;
o embrulhar-se em si próprio,
os pulsos algemando os joelhos.
A mente estacada, distante,
cosida aos olhos cegos
num finíssimo adaggio.

(Lá vai o maluco, lá vai o demente...).



Um subtil despertar,
lento, suave
mas em progressão aritmética;
a mente desatando-se,
os joelhos libertando-se,
a tristeza transmutando-se
em sorriso largo.
Os pulsos berram de gozo!
A língua destrava-se em mil librettos!
O desejado allegro vivacce!!...
Os bolsos alegremente ocos...

(ou julgas que não existe ninguém que te veja...).

O amanhã fugiu serra acima;
este nanossegundo é,
e nada mais.
Há que trepar vida fora
para que a queda seja ainda mais fragorosa,
de borco para o nada,
para as lágrimas,
desejosas de lavar memórias.
Por que queres ser
"Requiem" e "Concerto em Ré Maior"?
Porquê a sumptuosidade,
porquê a soberba magnificente do génio?

Sofrer sempre,
ser ditoso
numa leve pausa
entre dós...


(em itálico, fragmentos de António Variações)
(imagem retirada da net)




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domingo, 21 de dezembro de 2008

K

Natal do poeta

Esperarei sempre esse nascimento,

estranhamente anual,

mas todo o divino é distinto,

vário,

singular...

Nasce comigo o calor,

o aconchego

que só um Deus sabe dar.

Os homens podem virar-se as costas;

mas até as pedras gritarão

que Jesus nasceu


e que os brinquedos,

e as correrias,

e todos os vendilhões do templo,

e as luzes,

se ensombram pelo Seu fulgor .

Só o poeta,

aferrado ao verbo

que compartilha feliz,

é abraçado pelo Deus Menino,

que lhe honra as palavras.

E uma cintilação se esparsa,

suave,

amena,

por todos os lugares,

traz o esquecimento

e deixa as lembranças

das palavras simples,

brandas,

claras,

do poeta

que aquele Menino abençoou...
(imagem retirada da internet)

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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

K

medievo





Caí-me sobre o caos.


Meus braços, pernas, todo


pendiam como roupa pendurada


numa qualquer ruela medieval.

Um velho suor,


doutras paragens,

transbordou de dedos


fatigados de batalhas


de outros,


para outros.


Só me restavam as armas


e memórias de sangues.


Só armas,


memórias apagadas


de verde,


muito verde,


das colheitas de nós.


Com a espada não se ceifava;


nunca se havia ceifado,


ou feito o que fosse.


Pintarroxos, grilos,


já não o metal,


a imprecação.


Endireitei-me,


a espada sob o queixo;


nada era dos meus olhos;


então, meu exército,


pela primeira vez,


retirou.


Sem plano de batalha,


derrotado por si próprio.


O inimigo: eu mesmo.

Dera-me a el-Rey.


Nada tinha,


nada era.

Um espírito malquisto,


uma maldição errática.

O esconjuro de ter sido d'el-Rey...


Deus guarde el-Rey!



(Foto tirada da net)












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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

K

regresso/ida





...de regresso a um ponto,

sem coragem;

um amargor desperto,

que nem reacendeu,

sequer,

memórias agonizantes.

Caminhou,

deixando traços no pó.

Afastava-se aquela figura adelgaçada,

partindo sem a ousadia

(do regresso).

Sim, o arrebatado

(algures)

já não reacende.

As amendoeiras, essas,

carregavam a sombrados seus passos,

um ponto entre bagos de pó,

afunilado por um Sol baço

quase esquecido...


(inspirado num poema de moriana)


(imagem retirada da net)

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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

K

(homenagem...)

Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim



(Natália Correia in Defesa do poeta)






Quero um lápis,

uma tecla,

não, muitas teclas!


Quero escrever-me,


e desafogar-me.


Quero esfolar-me as entranhas,


o juízo, a demência absurda


de quem só já tem a liberdade.


Quero ser a antecâmara insuportável


do nascimento,


da morte (in)esperada,


da alegria e da felicidade e do perdão,


e da fúria e do choro e do ranger de dentes.


Sim, quero chegar a minha vida aos outros,


sem que eles me conheçam


e me execrem ou aplaudam
A indiferença com que os miro,


leva à rojo minha capa de desprezo.


Quero, com o que escrevo,


viver,


mais


e mais


em mim!!

(fotografia retirada da internet)

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domingo, 14 de dezembro de 2008

K

ocularis

Diz-me que desprezo é esse
que não olhas pra quem quer que seja,
ou pensas que não existe
ninguém que te veja
(António Variações)



Meus olhos tropeçam

no esguio ar dos outros.

Arrogo-me ao desdém

e caminho

num luto por mim mesmo.

Meus olhos implantam-se

nos negros que vêem;

tropeço em memórias,

sinais.

Olhos inquisidores,

olhares, sempre olhares.

Cúmplices, reféns

de minhas mãos

que os embalam,

que os regem,

em majestosa cadência,

em sumptuosa ínsula...



(foto retirada da net)

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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

K

o que carregas


Palavras ecoam,

entre rios,

paredes vagas.

Sorrio-me:

à madrugada

que carregas,

às letras, sintagmas,

Pessoa, é certo.

Tacteias um espaço

escondido nos teus limos,

nesses teus musgos,

que só o Sol sabe.

Ganhaste o tempo, brindou-te o caminho,

o teu canto é a tua paz!!


(inspirado num poema de Helena Domingues)
(imagem retirada da internet)

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K

Vontade d'el-Rey

Eras fraqueza.
Tua pele macia
levava-te ao sangue
num olhar.
Eras hipótese.
Sem certezas,
uma melancolia derramava-se
do teu ventre.
Eras cobarde.
A valentia fugira-te
havia muito.

El-Rey quis-te,
era a guerra.
Fugir?
Vestiram-te,
armaram-te:
um cinto de guerra,
braços e pernas
escondendo tua frouxidão.
Um escudo p'ra covardia.
Um capacete ornando
fantasias ausentes.
E a espada!
Cintilância na morte,
abrigo da vida.

(...)

Transfiguraram-te!
Da fraqueza, genica.
Da hipótese, tese.
Da cobardia, possança.
El-Rey te quis,
tu te tiveste,
guerreiro sombrio,
no rubro da contenda,
a morte escorrendo
pelo mundo abaixo.
Os olhos em El-Rey,
pés avançando
por seu novo jugo.

(...)


Vontade d'El-Rey,
acatam os homens,
o Império engradece,
a humanidade prostra-se!


(Grafitti situado em Telheiras, Lisboa)






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K

harmonia mundii

(...) em curvilínea lassidão.
Achega-se a ti.

Não há temor,

sorris ao seu riso,

dois, três alvos momentos,

abraças-te em pureza,

em quase inocência.

Tuas vestes alvas

levam-nas a brisa

de um mar que escorre perto de ti.

Regressam ao riso,

à prisão do olhar.

Reflectes-te, já tarde,

na maldição dum anjo, tornado negro,

por cintilarem teus olhos...
(baseado num poema de moriana)

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

K
Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes
(Carlos Drummond de Andrade)

Eu também já fui marinheiro,
Bastava olhar o oceano
subia aos pináculos
Da memória e do sal da vida

Eu também já fui fadista
Bastava um trinado
a voz brilhava
e coros angelicais se vazavam em círculos de claridade


Sei agora,
que tudo o que fui,
escorregou,
fluiu,
e me perdeu
em esquinas
espumosas duma vida,
que, por frete,
por indiferença,
vou consumando
até o poeta, o marinheiro e o fadista se encontrarem
num ponto que ignoro.
K

Ferreira do Alentejo

O Inverno ia no solstício.
Samarra, botas,
despedida adiada.
Ficou aquele Sol frio,
quase acolhedor.
O silêncio,
sempre.
Rumores de brisas.
O canto dos juncos
embalados nos sapais.
Duas cotovias dispersas.
A lareira amena.
Um sino ao longe,
chama ao borralho.
O Inverno incitara a chuva.

Silêncio.

Alguém se senta num poial.
O Sol porfia aquela luzerna.
O cheiro das filhós
trá-los de volta.
Há um nascimento
que os invoca.

Silêncio.

Crianças em roda,
a mesa abastada,
a alegria toda,
um sussurro terno
sob aquele Sol de Inverno.
(a moriana, pela inspiração...)
(foto extraída da internet)

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domingo, 7 de dezembro de 2008

K

in aqua


Sobre a urze silvestre, ao subir da montanha,

Uma gota de orvalho, em manhã de esplendores,

Lucitremia ao Sol numa teia de aranha,

como um prisma em que a Luz se decompunha

[em cores.

(Gota de água, António Feijó, in Sol de Inverno)


Beijei tuas folhas trémulas,

naquela manhã

de Sol caótico,

madrugador,

em que se tremia,

em veredas invisíveis,

em que a montanha estava para lá

do dizível.

Mirei um reflexo teu,

urze silvestre,

o orvalho baço escalava-te,

abraçando a aranha,

em trémulos beijos,

quase virginais.

Invejei-te,

pelo Sol,

[que]
me mirava desdenhoso,

pelo teu orvalho mudo,

pelas aranhas

tuas companheiras de vida em luzes cálidas e díspares.
(imagem retirada da internet)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

K

terra, ar, fogo, água


Enrolei o mar,

sob os braços;

as narinas imersas

no grito pulsante

da vaga

solta até à Lua.

Águas trémulas,

remoinhos pétreos,

sábios vazios.

(...)

Escalei a montanha,

estendi o mar sobre a relva;

desencontro de longas memórias.

Onde estavam tantos outros?

Para onde a púrpura do poente?

As águas esquecem as fúrias,

em oráculo se quedam...

(...)

Então,

ao leme da alma

ergui-me,

sorrindo à luz, ao calor, ao vento, à bruma

e fui, em passo de pastor,

fruindo a vida...


(inspirado num poema de blindness)
(foto retirada da internet)

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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

K

come out, come out wherever you are


O medo possui-me.
Sabe-me.
Na minha almofada,
ele escorre-se
tão lesto,
que temo a sua partida.
Brilha-me os olhos no escuro,
mostra os dentes quando acordo.
Fico inseguro,
laivos em pernas trementes.
Canto-lhe "lullabies",
sonda-me em jeito de quase fim.
Onde pára a sua alegria vampírica?
O seu jeito de borboleta?
Caminho longe,
passos quase firmes,
segue-me um Frodo bamboleante...

(a partir dum poema de moriana)
(imagem retirada da internet)

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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

K

demente

Lá vai o maluco,
lá vai o demente,
assim te chama toda essa gente.
Mas tu estás sempre ausente
e não te conseguem alcançar.

(António Variações)



Sim,

tenho os olhos,

guardados na gaveta das dobras

onde fica a dor de ontem.

Extraí e destilei a fuga;

caminhei lado a lado

com a raiva do nada;

o medo esgueirou-se
pelos pensamentos adentro.

Houve receios almejados,

marinhando pela alma longe,

fugidia.

O povo sabia o demente,

e nada tinha;

o demente tinha o ser,

o finito,

o nada,

o tudo,

o dobrar-se na fantasia,

e adormecia nos baixios

da memória.


(foto extraída da internet)


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domingo, 30 de novembro de 2008

K

Seaside Resort *****


Pombos aterram,
sobrando dos céus.
Não há ouro em areias,
ou limos vestais
para os acoitar.
Enterram as patas
em sobras,
quase expelidas.
Não vingam em dorsos,
já secos, gélidos.
Entre a quase morte
e um coração parando,
há um nada de poente.
Um mar cinza baço
força um adeus;
já as flores definhantes
se enrolam na noite lívida;
Um céu seco, escuro,
apaga aos soluços,
aquele “seaside resort”
que nunca nada excluiu…
(foto extraída da internet)

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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

K

Finis


Não há eterno;

o infinito prometeu sua morte.

Já não vivemos,

as promessas

caíram em mãos indiferentes.

Já nem a tua voz

me leva à resposta.

As palavras doeram,

na ruína dos afrescos;

já não (h)ouve um coração;

estradas solidárias

não carregam o sol da manhã.

Fugi;

da minha boca vazou o silêncio;

meus pés julgam-se em atalhos,

em atalhos de bruma.

Não há fado,

sina,

o sempre.

Apenas uma luz fugaz,

entre dois palmos de fumo.

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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

K

Artur

Usei o ferro,

golpeei a fronte,

arrastei o manto;

olhei pra trás;

a minha sombra,

só.

A lança, a espada, o escudo,

o pó os enlaçava,

foi-se a montada,

a demanda,

a procura,o rasto.

Envolvi-me naqueles farrapos,

outrora eu.

Nada onde retomar,

os caminhos haviam, finalmente,

suspendido os traços.



Algures,

entre matas de jasmim,

uma velha coruja abismava os olhos,

numa queda quase lenta,

a busca

quase em dor de ave.




(Fotografia de J.N)

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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

K

...tocata e fuga

...arte na fuga,


no partir em doce delírio;


não há pontes,


só caminhos doridos.


Entrei destino adentro, o tempo comigo,


a falésia acinzentando-se,


sussurrando o ar,


pontiagudo na fronte.


Caminho,


já não o há.


Invento, fantasio,


sobreponho-me, já nem vagueio.


Só o tempo insiste,


só o tempo me arde.


Um mar claro de escura lua,


persiste num farol,


tremente como o calor que me leva.



(inspirado em Paulo Renato Cardoso Libertação (excertos) in Órbitas Primitivas publicada por moriana)
(fotografia de J.N.)

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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

K

Chopin, op. 9, nº 3


Esbracejei-me,
sorri-vos,
só as portas gargalharam desdentadas,
em gonzos, tramelas e guinchos de pó velho.
Um sopro de flautim
virou-me os olhos,
baços;
p'lo meio do caos,
o fosso revirado,
enojadas as lamas.
Em vogais,
em maresia,
troquei-me
por um quase herói financeiro,
seco,
tão cheio de números viscosos.

Em sonhos então:
Chopin, op. 9, nº 3
(foto extraída da internet)

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K

A Darwin

Quero resvalar-me entre dois caules de flor e, assim, trepar pela árvore evolutiva, qual preguiça ambulatória.
K

[...]

Ainda não me findou o pulsar;
já vou longe,
fuga pra cá
com olhos de lá.
Por mim,
entre murmúrios
de criadas d'outrora,
levaria meus olhos ao Céu.
Aqui, tão só o que restasse.

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K
Minha vida vai em dois sacos,
um transporta-me a mim,
o outro leva os meus laços,
nas mãos segue o meu fim.

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terça-feira, 28 de outubro de 2008

K


O caríssimo Pedro Nunes co-distinguiu-me com este prémio: http://pedronunesnomundo.wordpress.com/

Não, não vou dizer o costume: que fiquei muito surpreso, etc. No entanto, fiquei mesmo surpreso; este meu blogue é algo de quase íntimo, de muito só - em que, confesso, busco a "resposta" do comentário, é certo. Quem me conhecesse pessoalmente talvez fosse entendendo estas minhas "dualidades"....

Não estou a qui para falar de mim. O Pedro nunca deixará de estar no "círculo" das inteligências que mais admiro: é ágil no argumento, profundo e sabe buscar o "novo" onde eu via pouco mais do que os "media" dizem. Posso não me situar na sua posição política, mas revejo-me em muitas das suas opiniões.
Um grande abraço, amigo e companheiro de lides bloguísticas.

Assim:
Informações sobre o Prémio Dardos:

“Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro(a) emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras.
Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiro(a)s, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.
Quem recebe o “Prémio Dardos” e o aceita, deve seguir algumas regras:
1. - Exibir a distinta imagem;
2. - Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;
3. - Escolher quinze (15) outros blogues a quem entregar o Prémio Dardos.”

Eis a lista dos meus onze galardoados, pela ordem (alfabética) em que surgem no meu blogue:

http://blue-stars-js42.blogspot.com/

http://www.cortar-a-direito.blogspot.com/

http://www.estudioraposa.com/

http://www.moriana.blogspot.com/

http://www.moriana2.blogspot.com/

http://levacorrente.blogspot.com/

http://www.orionix.blogspot.com/

http://ministeriodoamor.blogspot.com/

http://www.portuguesapoesia.blogspot.com/

http://roseiraldoamor.blogspot.com/

http://samantarmohi.blogspot.com/
K

O fundo


... queria fluir-me pra lá do Outono,
das nuvens,
das pedras que me levassem
para longe dos caminhos rectos;
sentiria pois os pulsos livres,
dos cravos,
a fronte, quem sabe, já solta.

Esquiva a mente,
tocou no solo morto;
ainda não houvera
regatos secos e bravos,
que me levassem
para além do Novembro.

Fiz jus ao tempo,
sentei-me na pedra mais baixa do meandro.
Estacado,
estava ali,
atado às minhas rochas de vazio.
Cruzei a perna,
gesto de pose, snobe,
teatral.
Algo que ali estivesse vivo,
nem por mim daria.
Sorri (des)cansado:
ao longe, ao fundo da mina,
serpenteava o som esperado;
o meu peso, a minha canga,
encontraria agora o seu par.

(Fotografia de J.N.)






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segunda-feira, 6 de outubro de 2008

K
Subi ao sótão do desvelo.
O chão fora afagado nas minhas mãos nuas.
Das janelas saíam restos de lava,
fria, mordente.
A manhã não elevava o rosto,
surpreso no sufoco.
Pisei as tábuas:
caldo morno.
Desci,
pisei o ar,
o pó.
A parede estancou-me,
exangue.
Não,
não pude ter falhado...


(inspirado num poema de Gil T. Sousa, publicado em moriana2)

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quarta-feira, 17 de setembro de 2008

K

há caminho?


Longo é o vento

que me leva.

O caminho, solto, a gravilha desfeita

em bolas silvestres.

Estrelas derramadas,

céu cadente,

velando os seus.

A vontade esfumou-se,

assim,

deslizando numa métrica casual.

Um ar, em atalho de Norte,

levou-a silente;

às sete horas

a Lua despediu um Sol mortiço.

Gaivotas sossegam,

há estradas que jamais se cruzarão.


(a partir dum poema de Nucha)

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K

lar de volta


Cada canto sorri ao meu olhar. Cada canto também se recorda dos meus olhos, do meu corpo.
O soalho estala de prazer e o ar cintila ainda mais depois da separação.
Sento-me. Deixo-me enredar pelo ar faminto que me leva e traz. Nem sinto a rua, o barulho lá fora.
Apenas os cedros, os linhos, as maciezas, duma casa que torno rústica, me afagam e despertam.
Ouso mil sorrisos e sinto-me abraçado de volta.
Sou daquilo que espreito e as saudades são laços, são carris, são trilhos que me trazem de volta.
(a partir dum pensamento de moriana)

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sábado, 6 de setembro de 2008

K

shutting silences down


going through the waves,

shutting silences

wherever,

smiling favorite laughs;

a heart,

whence?

A vow,

escaping down my sudden eyes.

And a photo, silently posing

as an effortless

work of baroque art.


(a partir dum poema de moriana)

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segunda-feira, 1 de setembro de 2008

K

fotografia


Aqui perdia a vista,


ganhava o sonho.


Aqui sorria ao mundo,


cambaleava na paixão


do iridiscente,


adentrava-me na loucura.


Aqui poisava o braço,


o queixo,


o riso já maduro;


como criança mirava o vento,


fulgurante de mil cores;


aninhava-me nos prados,


nas colinas,


banhava-me nas águas,


fluindo na memória,


escorrente em encantos


dum outrora já fugido;




e ria... ria muito,


ria como se fosse


o meu último riso,


no meu último leito,


na minha derradeira espera.
(inspirado num álbum de blindness)
(Fotografia de J.N.)

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K

janelas


já as janelas se esgueiram,

e os campos se cobrem de fluidas
sombras.

Há pousio;

o sol foge,

a noite abraça-o.

Nas janelas,

já escuras,

rostos velam as manhãs.

Ali ao lado,

o mar,

sensível em algas de ouro,

em ritos de escuridão.

Há um ar opresso,

uma lua fumegante,

uma paz...

em prenúncios,

em quietudes desertas
de alguém já esquecido
(
a partir dum poema de moriana)
(Fotografia de J.N.)

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

K

...entre os dedos


Levitam os ares,

sopram os encantos;

entre os dedos

erguem-se pedras,

rochas antigas,

em que os tempos falavam,

roçavam a memória.

Hoje, teus dedos sussurram suspiros,

trejeitos d'ontem;

as mãos recolherão

a imagem da terra.

Entre suspiros me deito;

há caminhos na terra,

sulcos de desejo,

a memória eleva-se,

o corpo amorna-se,

enrola-se,

abraça-se no vazio das imagens,

das falésias dos sonhos...


(inspirado num poema de moriana)

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terça-feira, 29 de julho de 2008

K

Passos

meus passos escorrem no esquecimento;
a casa, lenta, valseia,
muros acima.
Vejo as palavras
tão despidas:
lufadas de azul,
em laranja desmaiado.
Há sentido no que dizes,
nas tuas imagens;
há sons trotantes,
há miragens.
Verbos sonantes,
a areia húmida de passos despidos,
de memórias vagas,
com cinza em fundo.

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domingo, 27 de julho de 2008

K

...


...em nó me enlaço,

fujo, mas não.

Há um soco vão,

uma corda dura,

um arco maldito,

uma força,

uma razão louca,

em sangue jorrante!

Fúria vencida,

um quase vento,

um ciclone (a tua mão...)

ata-me,

larga-me em espaço vazio,

em buraco, em furo,

e enlaça-me

na doçura do quedar-se,

no borralho,

naquela brasa pulsante

onde o chão se foi,

e a cinza,

essa,

assim ficou...

(inspirado em blindness)

(Fotografia de J.N.)

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segunda-feira, 21 de julho de 2008

K

pray

Pray
may your walk
light my sunset
may I be
in your small pocket
in your nest
so that all sunsets
sunrises
and so
may fill
the upper end
that lies in me

(inspirado em Leonard Cohen, in moriana2)

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K

em definido arco


Em minha alma
um veneno se tece,
e espraia o medo,
a loucura finda.
Um sorriso,
em pose,
a lua sorri,
em minhas mãos
distas de nada,
corre um arco,
em vermelho púrpura,
em silente cruz,
uma curva,
um gemido sinuoso;
uma nota grave
em jeito de menor
riso,
de menor maldição.

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quinta-feira, 17 de julho de 2008

K

po(ente)

Límpido e arqueado,
gelou a minha passagem.

Assim,

sem cântico,

sem ponte, rarefeito.

O tempo o deixou,

a espera dolente,

do quase Agosto;

e o vão,

a abóboda insolente,

a catedral estática,

em pedra esfacelada,

(Salamanca esvaiu-se em areia, lembras-te?).

O medo,

o rigor torvo.

Águas esquecidas,

imóveis,

arco em ogiva perfeita,

gótico em bruma,

memória

em lugar nenhum...
(a partir dum poema de Nucha)
(Fotografia de J.N.)

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quinta-feira, 10 de julho de 2008

K

nós

Em nós
há enlaces;
há fugas;
nós anelamos laços
que, sorrindo,
desfazemos,
como meninos desatando as batas,
em fuga para as mães.
Há divinais laços,
há nós e amarras,
há amores,
e o toca e foge dos nós
que nós não queremos,

e desejamos em partida poente,
a caminho do vago

(vazio).


(a partir dum poema de moriana)

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quarta-feira, 2 de julho de 2008

K

em fuga


Não,

não criei o mundo.

Nem o corro,

demente.

Sorriram-me,

estenderam-me a mão,

rogaram-me que o possuísse.

Ri,

ri sem gosto.

O mundo tem-nos,

isso sim;

entre sóis e luas,

numa clara noite,

esquecida de memórias,

banhada de afagos esquecidos,

as pegadas rarefeitas,

submersas.

Morna a loucura,

o espanto,

entregam-me o mundo,

fujo dele,
fujo dele,
(...e fico!)


(inspirado por Menina Marota)
(Fotografia de J.N.)

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quinta-feira, 29 de maio de 2008

K

fluidez em dó menor


Flui o olhar,
o som,
a altercação.
Flui em sentido,
em pária névoa,
em gaveta;
aberto,
num súbito desdobrar
de umas asas altaneiras;
daquele voo
(esquecido)
na fluidez do raio.
Ecoam cravos,
percussões latentes também,
o ribombar das cordas,
o fluir do olhar,
da vista encantada.
Drapejam velas,
asas,
na fila desaustinada
daquele sopro,
em que nada se queda,
na queda dos olhos,
naquela altercação sonante...


(em 26/05/08, 19H40, estação do metro Cidade Universitária)

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terça-feira, 27 de maio de 2008

K
(...)...entre dentes cicio,
uma fala cega.
Um dizer em arco,
sem pilar,
em coluna de água,
baça.
Navego em quedad'água;
montes riem altivos,
há três ou quatro largos,
cinco caminhos verdes.



Um arco pulou em súbito desejo,
em brilho oco,
em estoque mosqueteiro.
Assim se juntou a ponte,
assim se uniu o fado...
(a partir dum poema de blindness)

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quarta-feira, 21 de maio de 2008

K

vitória...



(...) esse silêncio,



será a ausência,

a fuga cega,

o esquecimento opresso, longe;


já são nada:
o signo ou a lança,
a carne fincada, o ferro


(o não)

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terça-feira, 13 de maio de 2008

K

hoje é dia feriado

Espio-me pelas grades d'ontem.
O feriado não chegou a despontar;
restou a tarde,
o frio pela janela fora,
um gemido espinha acima,
olhos de longe,
em fuga.

(...)
A cadeira só,
um quarto soterrado,
as mão cortadas,
abertas,
secas...
antemanhã,
já dia silente -



(inspirado em Andreii Tarkovskii, in Moriana)

"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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